Se sou uma mulher , antes sou um ser humano que aprendeu através da vida que alguns sentimentos provavelmente não tem a ver com o gênero, tem a ver com as pessoas, aquelas à quem dedicamos momentos de nossa vida e acabamos por sentir aquilo que muitas vezes fomos ensinadas a reprimir de alguma forma.
Quantas de nós, mesmos não tão velhas e mais jovens, não fomos ensinadas a pensar que atração por pessoas do mesmo gênero é uma coisa vergonhosa, indigna, mesmo que expresse um carinho que transcende ao simples contato genital?Assim foi eu com Daniela e uma experiência que abriu portas para que eu me tornasse, se não uma pessoa liberal, ao menos alguém menos culpada por expressar seus pontos de vista, seus desejos e suas vontades mesmo que para isso, houvesse que trilhar um longo e duro caminho, cheio de desilusões, tristezas mas também de alegrias e vitórias.
Com Daniela, a primeira mulher que me apaixonei, foi algo que parece inventado, parece fantasioso demais para ser verdade. Como já disse, vim precoce para São Paulo, saída de casa com 17 anos para estudar e viver, até certo ponto, confortável mas simplesmente, sem tantos luxos. O único que me era permitido era morar sozinha, o que para mim e meu gênio dominante, era uma boa medida.
Daniela, ou Dani como eu a chamava, era uma colega de classe mas que morava em São Paulo à mais tempo. Eu dificilmente poderia encontrar uma amiga melhor: sempre pronta à ajudar, sempre disponível para qualquer coisa, mesmo que fosse uma balada ou então, confidências trocadas conforme a intimidade foi aumentando.Em um desses momentos de mútuas confidências, ela me disse, hesitante, que sofria alguns problemas com sua preferência sexual já que era lésbica e eu era uma das pouquíssimas pessoas a quem ela revelava isso. Disse-me que esperava que eu não me afastasse dela por isso.
- Claro que não, Dani! O que você faz da sua vida íntima não me interessa, eu não julgo, fique sossegada! Você é minha melhor amiga e eu te apoio em tudo o que você quiser fazer, pode ter certeza.
Ela sorriu e devo dizer que o sorriso maravilhoso dela era o que ela tinha de mais bonito, apesar de ser uma menina linda, morena, olhos castanhos, um corpo bem formado. O que o sorriso dela acrescentava era uma luminosidade atraente que simplesmente fazia com que fosse popular e querida por toda a turma.
O meu dia era corrido, o que fazia com que nem sempre eu e Dani tivéssemos um contato que extrapolasse o ambiente da faculdade já que nos primeiros anos eu fugia como um bicho do mato para o interior (hoje fujo mas por gostar mais de lá mesmo) ou ficava na "neura" de trabalhos escolares e me enfurnava em casa.
Apenas conheci a namorada de Daniela um dia que convidei-as para jantar lá em casa, para que elas conhecessem a minha tal "habilidade" em culinária italiana.Patrícia também era uma pessoa interessante mas não tinha a mesma irradiação de Daniela, parecia uma pessoa mais, como dizer, controladora,ciumenta, algo que se confirmou mais tarde
.Eu já estava estagiando quando , voltando do trabalho, recebi um telefonema: era Daniela.
- Oi, Nana... Você está ocupada agora?
- Oi, Dani! O que aconteceu? Parece que você está chorando?
- Ai, Nana! Eu preciso falar com alguém!
- Vem prá cá, Dani! Eu acabei de chegar do estágio mas até você chegar eu já vou estar de banho tomado. De qualquer forma eu vou deixar a porta aberta, tá?
- Ai! Obrigada, tá? Desculpa...
- Para de bobeira... Não tem nada o que desculpar. Te espero!
- Beijo! Tchau!
- Beijo! Tchau!
Intuitivamente eu sabia o que havia acontecido, já que eu estava sentindo que o relacionamento entre Patrícia e Daniela estava se arrastando e o rompimento se configurava.Houve tempo para que eu tomasse banho e me arrumasse antes que Daniela chegasse. Ela, como sempre delicada, tocou a campainha
. - Entra, Dani! Tá aberta! Eu estou aqui no quarto.
Daniela largou a bolsa no sofá e entrou no quarto em prantos. Imediatamente eu a abracei e sem falar nada, a acolhi. Quando mais calma, perguntei o que havia acontecido.
- Acabou, Nana! A Patrícia rompeu comigo.
Era exatamente o que eu havia pensado e para ela havia um complicador: Daniela dividia o apartamento com Patrícia o que exigia que ela corresse atrás de muitas coisas para rearranjar a vida.
- Oh, Dani! Vocês vivem brigando. Será que não tem jeito dessa vez?
- Não , Nana! Agora acabou mesmo... Estou arrasada! Você nem imagina o quanto tive de lutar para ficar junto com ela e agora me acontece isso.
- Calma... Vamos dar um jeito! Você quer vir morar aqui por um tempo? Fica aqui o tempo necessário até você esfriar a cabeça e poder tomar as providências que precisa tomar.
- Mas Nana, eu sei o quanto você curte estar sozinha! É sacanagem mudar para cá, nem que seja por pouco tempo...
- Sacanagem é não ter calma prá pensar e também, você é minha melhor amiga e eu não vou ficar sossegada se você estiver por aí,de cabeça cheia de minhoca e com alguém te pressionando.
- Putz!Você é demais, né menina? Eu tenho pouca coisa prá trazer, tá?
- Sem grilos! Eu vou deixar uma chave com você e vou comunicar à portaria que você é uma parente do interior que vai ficar por aqui um tempo, tá "priminha"?
- Tá, "priminha"! Te adoro, viu?
- Eu também! Quer ficar hoje?
- Pô! Mas eu não trouxe nada!
- Ih! Minhas roupas te servem e tem mais uma cama aí! Relaxa! Fica que eu vou comprar umas coisas para a gente comer! Quer ir comigo?
- Quero!
Foi assim que Dani mudou para minha casa e começamos a compartilhar o nosso dia a dia. Acredito que foi uma das poucas vezes em minha vida toda que gostei de compartilhar meu espaço com alguém. Dani era extremamente organizada, ajudava em tudo na casa e também foi uma grande companheira de estudo nas matérias que eu sempre me enroscava , assim como eu a ajudava nas matérias de finanças que sempre foram meu forte.
Com ela eu aprendi muito sobre a vida já que ela tinha ultrapassado mais barreiras que eu e sempre cobrou muito de mim e , mesmo quando eu não gostava de algo que ela falava, ouvia com atenção e , muitas vezes, percebi que ela estava certa naquilo que dizia.Criamos uma intimidade gostosa e, como costumo dizer, as coisas foram acontecendo quase que naturalmente. Lembro-me bem de um dia em que estávamos assistindo televisão ela estava deitada no sofá.
- Ei, menina! Você está muito folgada! Deixa eu sentar nesse canto!
- Pode sentar, Nana!
- Claro que eu posso! - disse rindo - Agora, se você quiser, pode deitar aqui no meu colo.
- Oba! - disse, parecendo uma criança.
Deitou-se no meu colo e ficamos assistindo à um programa na TV. Quem me conhece, sabe que eu não consigo ficar parada, principalmente com as mãos (mal de italianos). Sem nem ao menos perceber, comecei a brincar com os cabelos da Daniela
.- Oh, Dani! Você tá muito relaxada com esse cabelo! Ele é tão bonito e você nem penteia direito! Está precisando de uma boa escova. Espera um pouco.
Levantei-me e fui ao banheiro buscar a escova. Sentei-a de costas para mim e comecei a pentear seus longos cabelos, desembaraçando-os e, aos poucos, fui deixando do jeito que cuidava o meu, apesar de serem curtos.- Eu adoro esse seu cabelo! - disse - Quem sabe eu tenho coragem de deixar tão comprido assim!
- Dá trabalho mas é bom! Eu gosto!
- Vira de frente prá mim. Deixa eu ver uma coisa.
Comecei a completar meu "serviço". Foi nesse momento que acendeu alguma coisa dentro de mim ao observar os lábios, o pescoço, o colo, os seios, enfim a ter um olhar diferente e inesperado em relação àquela amiga que já morava comigo.Os meus pensamentos me dominaram e eu já não sentia sequer a escova nas minhas mãos. Olhava fixamente em seus lábios e em uma vontade que me era absolutamente nova, ou não, que era latente em mim: beijá-la.
No entanto, como ela receberia tudo aquilo? Mesmo sabendo que dois meses haviam se passado de convivência, Patrícia era uma lembrança talvez incômoda e não queria reacendê-la.No entanto, parece que nada controlava meu desejo. Fiz um carinho na maçã do rosto e sorri, sendo retribuída naquele "gesto". Isso foi como uma senha, como uma aprovação (ou não): aproximamos nossas bocas e nos beijamos. Aquilo descortinou uma nova sensação, uma nova vontade, um novo carinho que, muitas vezes, me enchia de pudores mas em outras vezes, me atiçava mais e mais.Outro "bit" que se acendeu em meu cérebro. Cortei o beijo de repente, enrubesci e disse à Daniela.
- Dani... Desculpe! Foi sem querer...
Ela sorriu , abriu aquele riso maravilhoso.
- Não sei porque você está se desculpando, Nana. É um gesto de afeto como qualquer outro.
- Mas... - hesitei.
- Mas?
- Deixa para lá! Você tem razão.
- Gostei desse seu beijo, sinceramente. Foi um beijo tão afetuoso...
- Ah, é? - disse, rindo quase que pudicamente.
- Sim, é.
Aproximei-me novamente e voltei a beijá-la. Agora colávamos nossos corpos até que parecessem um só, com uma sutileza que não sugeria nada de mais, como de fato não era. As carícias se multiplicaram e se intensificaram sem que tivéssemos domínio do que estávamos fazendo, sem imaginar qualquer conseqüência, sem querer pensar o que quer que fosse.
- Dani... Me ensina como é fazer amor com uma outra mulher?
- Você quer, Nana?
- Quero! Muito!
- Então te ensino. Vamos para nosso quarto
.- Claro! Vamos!T
rancamos a porta, fechamos as janelas e as cortinas e fomos para o quarto. Novamente nos tocamos, recomeçamos nossos beijos e suavemente Daniela foi tomando conta da ação, começando a beijar meu pescoço com suavidade, fazendo com que, involuntariamente, gemidos escapassem,suaves como um pequeno uivo contido.Não sei se é relevante comparar as mulheres aos homens ou simplesmente constatar que somos diferentes mas o beijo de Daniela no meu pescoço continha algo de excepcionalmente maravilhoso, uma falta de pressa que me fazia antever que o orgasmo não se daria só no meu sexo mas em todo o meu corpo.Eu usava uma roupa de dormir feita de seda, como uma espécie de "quimono" sem absolutamente nada por baixo. Portanto, quando ela tirou o "cinto" e a parte de cima se abriu, o acesso estava livre aos meus seios cujos mamilos estavam eretos, denunciando toda a minha excitação.
- Ai , Dani! Que delícia! Suga, meu bem! Suga!
Ela me olhou ao mesmo tempo em que sugava meus seios e isso me deixava transtornada e logo percebendo que era uma forma totalmente nova, ao menos para mim, de se sentir desejada, sem pressa e sem uma genitalidade precoce. Daniela dedicou especial atenção aos meus seios fazendo com que sentisse a umidade em minhas partes íntimas literalmente brotar, me deixando pronta para o sexo.
Puxei-a pelos cabelos e beijei-a.
- Nana... Me deixa te dar prazer...
- Sim... Te deixo, linda! Me faz ter todo prazer do mundo!
Deitou-me na cama, desceu para minha barriga me fazendo sentir além de algumas cócegas, muito prazer. Aliás, as curtas risadas que dava ao sentir cócegas me fez sentir uma menina que aprende algo gostoso e prazeiroso.O caminho das minhas pernas foi percorrido devagar, com beijos e lambidas, na parte interna das coxas, descendo até os meus pés que foram beijados e reverenciados e, na volta, tirou minha calcinha, parte com os dentes, parte devagar, até que me deixasse totalmente nua.Abriu-me as pernas, lambeu meu cuzinho, penetrou-me com a língua e com os dedos, deu um novo significado aos gostos que senti mesmo não sendo a primeira vez que eu os sentia.
- Ai, Dani! Que loucura! - disse eu que até aquele momento apenas ouvia os elogios da minha amante e também os meus próprios gemidos
.- Calma, gatinha! O melhor está para vir!
Foi nesse momento que ela deslizou a língua em direção ao meu clitóris em meio aos pelos que anteriormente sobravam da minha depilação parcial e quando a ponta começou a mover-se em direções diferentes , para cima, para baixo, para a direita e para a esquerda, comecei a gemer cada vez mais intensa
- Ai que tesão , Dani! Nunca senti tanto tesão assim! Me chupa mais!
Ela apenas olhava, sem parar de me chupar e colocava um dedo dentro de mim, depois dois, o que me fazia enlouquecer mais ainda.Dá para imaginar que meu orgasmo não demorasse muito e veio, me fazendo empurrar a cabeça de Dani até a quase sufocação, sentindo as ondas e contrações do meu prazer expandirem-se no ar. Daniela continuou me chupando enquanto o meu orgasmo durava e foi eu que a trouxe para perto de mim, à tempo que ela notasse as lágrimas brotarem de meus olhos.
- Ai, Dani! Nunca gozei tão gostoso assim!
O riso maravilhoso brotou mais uma vez em sua face. Quis, de imediato, retribuir aquele orgasmo maravilhoso mas ela me tranqüilizou:
- Calma! Viva esse momento! Depois continuamos... Temos todo o tempo.
Realmente tivemos todo o tempo, aquele dia e muitos outros até que, em outro momento distante, nos separássemos. Até hoje mantenho contato com Daniela que mora longe, muito longe. Independentemente de qualquer coisa, o importante foi o carinho e ele é o maior e melhor presente que alguém pode dar ao outro.